quarta-feira

A mulher sentimental

Deixada de lado pelos filhos
Excluída do orkut pelo marido
A mulher sentimental revolta-se numa sexta-feira de outono

Não faz mais poema
Não faz mais piada
Parou de contar feijão.

sexta-feira

aos homens

Aos homens, que sejam belos. E sejam, se não homens, meninos-homens, que calem nas palavras a malícia e a malemolência da maturidade infantil dos homens. O homem não ri de seu próprio humor, a não ser no canto do olho, tocando sutilmente n’alma do outro que – este sim, não homem - ri. Aos homens, seja dada a beleza dos ombros largos e da voz de veludo que às mulheres não é permitido. Às mulheres restam os soluços finos da simpatia rasa do cotidiano.

Aos homens deixo o deslizar dos corpos no cimento e na terra, no andar composto e corpulento. Nunca pesado. O homem não é além da leveza e da possibilidade de ser, no grosso tom em que dá som aos pensamentos. Pensamentos que não cabem aos garotos, às mulheres e aos demais bípedes, pois (os pensamentos) são tudo sempre, e sempre o que possa haver – o que o homem é.